quinta-feira, 11 de junho de 2009

A dor e a morte (António Alçada Baptista)

A natureza do pensamento ocidental, tal como ficou condicionado pela importância que a razão nele tomou, talvez tenha sujeito a condição humana a um incomensurável equívoco. O facto é que temos a presunção de que tudo tem que ser "razoável" mas nada é intrinsecamente "razoável". Se alguém por aí tiver dúvidas, olhe de frente e com demora para a dor e para a morte.
É evidente que isto de considerar a dor e a morte como duas coisas que não deviam existir desencadeou na história uma luta sem tréguas contra uma e contra outra que decerto não teria existido se tivéssemos permanecido budicamente conformados com a sua inamovível existência. Mas o que eu, em horas mais exigentes, me pergunto é se isto de olhar para as evidências do mundo como coisas que não deviam existir não impede ou pelo menos não dificulta a nossa reconciliação com o universo, já que é dessa reconciliação que pode depender a nossa alegria e a nossa paz.
António Alçada Baptista, "Peregrinação Interior - vol. II - O Anjo da Esperança", Editorial Presença